Por Paulo Gala

Aglobalização provocou uma revolução na estrutura econômica global.

A articulação entre os fatores que impulsionaram a expansão da economia globalizada envolve: o crescimento continuado dos fluxos de capitais para o mercado americano e a migração da produção manufatureira para os países de baixo custo da mão de obra, especialmente na Ásia do Leste; o acirramento da concorrência entre as grandes multinacionais, que impulsiona a nova distribuição espacial da produção globalizada; a formação de bolhas sucessivas de valorização dos ativos reais e financeiros apoiadas pela alavancagem financeira; a evolução anêmica dos rendimentos dos trabalhadores, com consequente ampliação das desigualdades e endividamento excessivo das famílias nos EUA e na periferia europeia; e a persistência de déficits fiscais e a expansão de dívidas de governos.

No formato “fordista”, o circuito de geração de renda era ativado pela demanda de crédito para financiar o gasto dos empresários confiantes nos efeitos da expansão da renda no conjunto de atividades que se desenvolviam nos espaços nacionais, a partir da generalização dos métodos de produção industriais, seja nos serviços ou na agricultura, especialmente dentro do território americano e europeu.

No mundo de hoje, globalizado, a redistribuição espacial da manufatura e a hiperindustrialização levaram à precarização. A queda dos rendimentos dos trabalhadores nesses continentes, assim, desestimula a demanda. Os ganhos de produtividade e de salários geram demanda e desenvolvimento econômico na Ásia do Leste. Países saltam da pobreza para a renda média.

No mundo “rico”, as famílias submetidas à lenta evolução dos rendimentos sustentaram a expansão do consumo com vertiginosa expansão do crédito. A partir da crise de 2008, esse circuito de formação de produção e renda na economia mundial como um todo começou a falhar, dando origem ao período da grande recessão.

Parte da oferta da economia dos EUA (e também da Europa) está hoje na Ásia. Surge, então, uma situação curiosa de “demanda mundial fraturada”: as famílias americanas demandam, via crédito, bens produzidos no leste da Ásia que por lá geram ganhos de escala, de produtividade e salariais. O regime fordista de produção foi transferido para o leste asiático, só que os consumidores estão nos EUA tomando dívidas.