Por Sérgio Tauhata | De São Paulo

Yuichi e Hirokazu, da Legg Mason: fluxo retornará ao Brasil após Previdência

Uma nova onda de investimentos japoneses no Brasil pode ser deflagrada pela reforma da Previdência, afirma Izumi Yuichi, vice-presidente e analista de investimentos da Legg Mason Asset Management do Japão, que reúne US$ 31,5 bilhões em ativos sob gestão. De acordo com o especialista, que conversou com o Valor durante passagem por São Paulo, existe um potencial represado de crescimento da alocação de recursos em portfólio vindos do país asiático que pode alcançar quatro vezes o volume atual.

A condição para essa nova onda, porém, é direta: os japoneses precisam de visibilidade fiscal e econômica no longo prazo, o que significa ampliar alocação apenas após a reforma, pondera Yuichi. “Nós estamos em uma posição de esperar para ver.”
De acordo com o executivo, entre os investidores da gestora no Japão, há uma percepção de que o Brasil está perto de decolar em um longo ciclo de crescimento sustentado, se as reformas forem feitas. Para Yuichi, nem mesmo uma piora no ritmo de desaceleração global tiraria a atratividade do ciclo brasileiro nesse cenário. “A tese de crescimento do Brasil seria mais forte do que a desaceleração global”, afirma.

A possibilidade de uma virada econômica reacendeu a luz de interesse entre os investidores japoneses. Tanto que Yuichi desembarcou em São Paulo junto com o diretor e chefe de vendas de Trust Management da Legg Mason do Japão, Osada Hirokazu, justamente para “entender o progresso dos ajustes”. Segundo Hirokazu, “o aumento de interesse dos clientes sobre o Brasil é nítido, muito mais pessoas têm nos perguntado sobre vocês”.

Questionado sobre como os recentes conflitos entre o governo e o Congresso, que poderiam interferir e, no limite, até inviabilizar a reforma da Previdência, afetam sua visão sobre o país, Yuichi admite certa preocupação, mas relativiza o momento atual. “Para nós, na verdade, não é tão importante fazer projeções sobre a possibilidade de aprovação da Previdência, porque olhamos o longo prazo, importante mesmo é ver o projeto passar”, diz.

Os clientes da Legg Mason no Japão investem em ativos brasileiros por meio de dois veículos da associada Western Asset. São dois fundos, um de bônus soberanos e outro de ações com estratégia de dividendos. Segundo a Western, o portfólio de renda fixa tem patrimônio líquido de R$ 2 bilhões, enquanto o de renda variável atinge R$ 400 milhões.
Yuichi conta ter ocorrido uma onda anterior de investimentos japoneses em ativos brasileiros, durante o período de 2008 a 2010, momento no qual o país viveu um forte crescimento econômico. Porém, “a longa recessão nos últimos anos reduziu a alocação dos japoneses no Brasil”.

No auge da euforia, o fundo de renda fixa brasileira da Western distribuído no Japão alcançou um patrimônio de R$ 8 bilhões, ou seja, quatro vezes o atual. Para Yuichi, esse seria o potencial de crescimento de uma nova onda de fluxo de recursos japoneses ao país. “Desde o ano passado, temos visto a possibilidade de aprovação da reforma da Previdência como um catalisador para o investidor de longo prazo.”

No início da década, investidores japoneses do varejo, conhecidos no mercado pelo apelido “senhora Watanabe” por serem, na maioria, pessoas com mais de 50 anos e aposentados, chegaram a manter aplicações de mais de US$ 60 bilhões em moeda brasileira. Os aportes são realizados por meio dos fundos Toshin, que detêm cerca de US$ 1,1 trilhão em ativos.

O real chegou a representar 79,2% dos investimentos desses portfólios em divisas estrangeiras em março de 2010. Após a recessão, porém, a alocação dos fundos Toshin em moeda brasileira alcançou o nível mais baixo desde a crise financeira, em torno de US$ 13 bilhões, na metade de 2018.

De acordo com Hirokazu, o ambiente de juros abaixo de zero no Japão estimularia o interesse por ativos brasileiros. “O título de 10 anos do governo japonês hoje está com ‘yield’ negativo.” A confirmação de um ciclo de expansão prolongada no Brasil ajudará a atrair parte do fluxo dessa busca por retornos do capital japonês.