Por Daniela Meibak, Marcelo Osakabe, Lucas Hirata e Ana Carolina Neira | De São Paulo

A fragilidade da economia continua trazendo preocupações para analistas, além de alimentar a discussão sobre possíveis estímulos adicionais por parte do Banco Central. E, à medida que investidores tiram prêmio de risco do mercado com o alívio na cena política, mais evidentes ficam as apostas no corte da taxa básica em algum momento deste ano.

De acordo com dados compilados pela gestora Quantitas, os juros futuros (DI) embutem corte de 4,4 pontos percentuais da Selic na reunião do Copom em julho e de 5,2 pontos em setembro, além de uma baixa de 2,9 pontos em outubro. O contrato para janeiro de 2021, que reflete as apostas até o fim do ano que vem, caiu ontem de 6,80% para 6,75%. O comportamento das taxas ilustra bem o receio de analistas e investidores com a fraqueza da atividade, cenário que exigiria uma política monetária ainda mais expansionista.

Ontem, o assunto foi levado por economistas a dirigentes do BC, em encontro realizado no Rio de Janeiro. O desânimo com o crescimento econômico prevaleceu nas conversas e, agora, as preocupações são de crescimento da atividade inferior a 1% neste ano. O risco é que o ritmo seja mais fraco que o de 2018, quando a expansão foi de 1,1%. “A discussão com o BC foi sobre PIB potencial e destruição da capacidade produtiva, que leva as projeções para baixo. A reforma da Previdência muda pouco isso, por isso a expectativa de novas revisões”, afirma uma fonte que preferiu não ser identificada.

De acordo com o interlocutor, é consenso entre os economistas: o BC não deve fazer alterações na política monetária antes da reforma da Previdência ser aprovada. “A maioria avalia que dá para cortar, mas acha prudente esperar e ver o tamanho da reforma.”

A reunião do BC com economistas serve de base para a formulação do Relatório Trimestral de Informação (RTI). Quem representou o Banco Central no evento foram os diretores Carlos Viana (política econômica) e Tiago Berriel (assuntos internacionais), que não emitiram opiniões, de acordo com interlocutores.

Os dirigentes devem se reunir hoje com economistas em São Paulo e a discussão sobre a fraqueza da atividade deve prevalecer ao longo da semana. Na quinta-feira, serão conhecidos os dados do PIB do primeiro trimestre e a expectativa é de contração de 0,2% em relação aos três meses anteriores.

Um dos fatores que tem pesado na recuperação, a incerteza política ganhou novo capítulo no fim de semana, com as manifestações de apoio ao governo em todo o país. Os atos, no entanto, não prejudicaram os mercados ontem, uma vez que houve baixíssima liquidez por causa do feriado nos Estados Unidos e no Reino Unido e falta de expediente em Brasília. Essa calmaria pode mudar a partir de hoje, quando o Congresso volta aos trabalhos.
O Ibovespa fechou em alta de 1,32%, aos 94.864 pontos, mas o giro financeiro foi de apenas R$ 6,7 bilhões – o segundo menor do ano, ficando atrás apenas do dia 6 de março. Já o dólar comercial encerrou em alta de 0,49%, aos R$ 4,0348, com poucos negócios.
Na opinião de Rafael Cortez, analista político e sócio da Tendências Consultoria, a disputa entre Executivo e Legislativo não foi alterada pelos atos e os dois poderes devem permanecer em atrito constante. Esse quadro, entretanto, não altera a perspectiva para a reforma da Previdência. “O Congresso precisa aprovar a reforma para escapar dessa armadilha retórica do governo de também ser responsabilizado por essa conjuntura [de fraqueza] econômica”, diz.

Ao mesmo tempo, os parlamentares podem se sentir ainda mais constrangidos em se distanciar da agenda do governo depois da forte presença, nas ruas, das pautas mais concretas do Executivo: reforma da Previdência e pacote anticorrupção do ministro Sergio Moro. “Os manifestantes de domingo têm perfil muito mais parecido com o de um deputado do Centrão do que os participantes do ato do dia 15 [que eram contra o contingenciamento na Educação]”, nota Leonardo Barreto, analista político da Factual Informação e Análise.