Por Daniela Meibak, Marcelo Osakabe e Ana Carolina Neira | De São Paulo
O mercado financeiro retomou uma dinâmica bastante positiva na sessão de ontem, amparado pela leitura de que as denúncias envolvendo o ministro da Justiça, Sérgio Moro, não afetam o andamento da pauta do governo. A percepção foi reforçada pelo fato de que algumas propostas do Executivo voltaram a caminhar no Congresso, desvencilhando-se dos ruídos políticos.
Os investidores viram espaço para recompor as carteiras com ativos brasileiros. O Ibovespa operou em alta durante toda a sessão e fechou com ganho de 1,53%, aos 98.960 pontos. O giro financeiro foi robusto, de R$ 13,7 bilhões, acima da média anual.
Já o dólar comercial retomou o movimento de queda que tem prevalecido nas últimas três semanas. A moeda americana encerrou em queda de 0,87%, aos R$ 3,850, o menor nível de fechamento desde o dia 10 de abril. Com isso, o real teve o terceiro melhor desempenho do dia contra o dólar, atrás apenas do rand sul-africano e do peso chileno. Como pano de fundo, está a melhora da percepção sobre o desfecho das disputas comerciais dos EUA com México e China.
O movimento também favoreceu a queda dos juros futuros. A taxa de longo prazo medida pelo DI de janeiro de 2025 recuou de 7,74% para 7,61%.
A busca por ativos locais se apoiou na leitura de que a divulgação de diálogos de Moro não afeta a governabilidade no Congresso. “O que aconteceu com Moro chama a atenção, claro, mas temos diversos exemplos do andamento da agenda”, diz Vinicius Andrade, analista da Toro Investimentos.
Para analistas, essa percepção ficou evidente com a aprovação, na Comissão Mista de Orçamento (CMO), do projeto que libera crédito extra para o Executivo no montante de R$ 248,9 bilhões para pagar despesas correntes.
A votação do crédito suplementar ficou ameaçada após a divulgação de supostos diálogos travados entre o então juiz Sergio Moro e o procurador federal Deltan Dallagnol, que levou a oposição a declarar a obstrução dos trabalhos enquanto o caso não fosse esclarecido. Os deputados da oposição, no entanto, cederam após o governo oferecer a liberação de R$ 2,8 bilhões em recursos contingenciados para a Educação, o Minha Casa Minha Vida e para obras no Rio São Francisco.
A medida aprovada pelo CMO evita o descumprimento da “regra de ouro” e ainda precisava ser apreciada pelo plenário do Congresso, o que era esperado para a noite de ontem.
“O mercado está contente de ver que o Congresso encontrou uma nova forma de trabalhar e elegeu a agenda econômica para chamar de sua. Isso agrada. Rodrigo Maia [presidente da Câmara] sabe como o mercado pensa e se aliou a Paulo Guedes [ministro da Economia]”, afirma Marcos de Callis, estrategista de investimento da asset do banco Votorantim.
O estrategista afirma ainda que o mercado está bastante otimista com a tramitação da Previdência. “Embora o governo não tenha todos os votos para passar a reforma, vai conquistar isso de acordo com as resistências que conseguir eliminar com o relatório da Comissão Especial. Estão trabalhando nisso”, conta.
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