Por Maria Luíza Filgueiras e Stella Fontes | De São Paulo

Os dois principais bancos credores do laboratório Teuto, Itaú e Bradesco, estão coordenando a busca por um sócio investidor para a companhia, em um novo processo de venda. Conforme duas fontes, já foram contatadas pelos bancos as gestoras de private equity do J.P. Morgan e a europeia CVC Capital, que não teria se interessado. Vender a companhia não será fácil, segundo executivos do setor.

A família Melo, dona da empresa, começou a conversar com investidores no início do ano passado para resolver seu endividamento, em torno de R$ 800 milhões, mas não teve sucesso. Este ano, os bancos assumiram a busca em um processo organizado de venda. A princípio, trata-se de participação minoritária.

“O novo processo está sendo coordenado pelos bancos credores. A companhia está alavancada e tem margens baixas”, diz um executivo com conhecimento do assunto. “A família não quer vender o controle, mas não sei se isso vai ser possível”, diz outro executivo ligado ao processo.

A resistência da família Melo em vender controle e passivo elevado da empresa são obstáculos nas negociações
A negociação minoritária foi justamente o que teria afastado, no ano passado, o interesse da gestora de private equity Principia, que queria uma transação pelo controle, de acordo com esses interlocutores. Era a principal interessada no ativo. Procurada, a Teuto disse que não comenta rumores de mercado. As gestoras também não falam sobre o assunto.

Outras tentativas de vender o laboratório Teuto aconteceram nos últimos anos. Farmacêuticas multinacionais, entre as quais a Teva (de Israel) e a Torrent (da Índia) e gestoras de private equity, como Advent, olharam de perto o ativo entre 2016 e 2018, mas não chegaram a apresentar uma oferta final.

Segundo fontes do setor farmacêutico, problemas relacionados à qualidade da água e a ativos fixos, e o passivo elevado do Teuto, têm afastado potenciais investidores. O desejo de permanência da família Melo no controle do laboratório, comentou um executivo, também não ajuda a atrair um novo sócio.

Segundo o último balanço publicado pelo Teuto, relativo ao exercício de 2017, a alavancagem financeira estava em 4,3 vezes – ainda elevada, mas abaixo das 9,8 vezes de dezembro de 2016. A dívida líquida era de R$ 515 milhões, quase toda concentrada no curto prazo.

Uma fonte ouvida pelo Valor disse que, diante das dificuldades financeiras, o laboratório acabou tomando empréstimos caros para rodar a operação, o que agravou seu endividamento. Adicionalmente, o acirramento da concorrência no mercado brasileiro de medicamentos genéricos e isentos de prescrição, combinado com a valorização do dólar que ampliou a pressão sobre os custos de produção, afetou não apenas o Teuto mas toda a indústria no ano passado.

O desempenho aquém do esperado nos últimos anos e desentendimentos sobre a gestão da empresa levaram a farmacêutica Pfizer, que foi sócia do Teuto até meados de 2017, a revender sua participação à família Melo por um preço “consideravelmente inferior” ao que pagou para entrar no negócio.

A farmacêutica americana comprou uma participação de 40% no Teuto no fim de 2010 por R$ 400 milhões e, por contrato, tinha prazo até junho de 2017 para adquirir a totalidade da empresa, a um múltiplo de 14,4 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Considerando-se o Ebitda de R$ 119,4 milhões de 2017, o negócio poderia custar R$ 1,7 bilhão.

Em 2016, quando já estava claro que a Pfizer não exerceria o direito de fazer uma oferta pelos 60% que ainda pertenciam à família Melo, os sócios contrataram o Goldman Sachs e o BTG Pactual, respectivamente, para buscar compradores para suas ações. Farmacêuticas nacionais e estrangeiras e gestoras de private equity chegaram a analisar o ativo, mas as conversas não prosperaram.

O laboratório Teuto foi fundado em 1947 em São Paulo e comprado, em 1986, por Walterci de Melo e seu irmão Lucimar de Melo. A companhias passou a operar em Anápolis, no Estado de Goiás, voltada para produção de genéricos.