Por Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Depois de adiar a oferta pública de ações prevista para junho em meio à piora nos mercados, o Agibank deu uma amostra do que os investidores perderam nos resultados do segundo trimestre. O banco, que atua na concessão de crédito e conta digital para clientes de menor renda, registrou lucro líquido recorrente R$ 52,3 milhões.
O resultado representa uma alta de 128% em relação ao mesmo período do ano passado e uma rentabilidade sobre o patrimônio de 55,1%. O índice é 33,5 pontos percentuais superior ao registrado pelo Itaú Unibanco, por exemplo, o mais rentável entre os grandes bancos privados.
A instituição manteve o registro de companhia aberta e o plano de captar recursos com a oferta de ações. A retomada da operação, porém, dependerá das condições de mercado, que devem se manter adversas no período pré-eleitoral, segundo Marciano Testa, presidente do Agibank.
Os números do banco chamaram a atenção dos investidores durante a oferta. Parte relevante do resultado vem dos spreads nas operações de crédito. No segundo trimestre, a taxa média da margem financeira do Agibank foi de 68,2%. Essa estratégia não está livre de questionamentos. Em maio, o banco foi alvo de uma ação civil pública por cobrança abusiva.
A tendência é que os spreads caiam conforme o número de correntistas e o relacionamento com esses clientes aumentar, segundo Testa. “Com um portfólio mais diversificado, teremos risco de crédito e taxas menores, mas mantendo o mesmo retorno”, afirma. Os spreads também compensam a inadimplência elevada da carteira do banco, que encerrou o trimestre em 25,4%. “O índice está dentro da faixa esperada para nosso tipo de ativos de crédito”, diz Testa.
O Agibank pretende mudar o perfil da carteira de crédito com o projeto digital. Em junho, contava com uma base de 266 mil contas, um aumento de mais de seis vezes nos últimos 12 meses. A meta do banco de chegar a 500 mil correntistas no fim deste ano será “facilmente superada”, segundo o executivo. “Nossa estratégia central é ser o primeiro banco de relacionamento do cliente”, diz.
Ao contrário da maior parte das empresas de tecnologia financeira (fintechs), o Agibank não se apoia exclusivamente nos canais digitais para crescer. O banco conta também com uma rede de 522 pontos de atendimento, que deve chegar a 1.200 nos próximos anos.
Além da expansão da rede, o Agibank pretende investir R$ 750 milhões em tecnologia para o projeto de banco digital. “Com o adiamento do IPO, esses investimentos levarão um período de tempo maior para acontecer”, diz.
Mesmo sem os recursos da oferta, o Agibank possui folga de capital para dar sequência ao plano de expansão. A carteira de crédito da instituição dobrou nos últimos 12 meses atingiu R$ 1,5 bilhão em junho. O índice de Basileia, que mede a capacidade de uma instituição financeira emprestar em relação a seu capital, encerrou junho em 18,1%. “Mantemos uma alavancagem pequena, de três vezes o patrimônio.”
Com sede em Porto Alegre, o Agibank atuava como financeira até 2016, quando adquiriu o Banco Gerador, que atuava no Nordeste. Testa diz que ainda há muito espaço para avançar no país, mas já deu o primeiro passo para internacionalizar o banco com uma sede na Flórida, que aguarda licença para começar a operar.
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