Os americanos estão se afastando do ‘orgulho de ser dono de algo’ que moldou sociedade capitalista, diz pesquisador
Por Leslie Patton — Bloomberg, de Chicago
Kristyn Ivey deixou seu emprego e tornou-se consultora de arrumação
Em uma recente tarde de sábado no centro de Chicago, o apartamento de Tara Latta, no 36º andar é uma completa bagunça. Estou observando Tara, de 39 anos, tentar encaixar os objetos que estavam num depósito em seu novo quarto, e parece que não está funcionando. A mesa da cozinha está repleta de recibos de farmácia, catálogos, contas de luz e listas de tarefas. As caixas de mudança estão empilhadas até a metade do teto. Os balcões estão cheios de xícaras de chá, tigelas e garrafas de água.
Mas nem tudo é como parece. Tara está no meio da segunda de três sessões de cinco horas com a consultora de arrumação Kristyn Ivey. Um dos primeiros pedidos de Ivey a seus clientes é que retirem tudo dos armários. Depois ela começa a trabalhar. Por cerca de US$ 100 por hora, a ex-engenheira química promete organizar casas e muito mais.
“Trata-se de se confrontar e aprender sobre as coisas que você mantém ao redor”, diz Ivey, que me permitiu acompanhá-la na visita. “Isso é mais do que uma estratégia organizacional.”
Ivey é discípula de Marie Kondo. Para os não iniciados, Kondo, também conhecida como KonMari, é a guru de arrumação e autora de best-sellers que estreou um programa de sucesso da Netflix há um ano. Kondo disse que ficou obcecada com organização quando criança e, depois de um surto sobre o que jogar fora, teve uma revelação: o que ela realmente deveria fazer é ficar com as coisas que a fazem feliz. Isso evoluiu para o mantra “faísca de alegria” de Kondo, que agora está sendo difundido por quase 400 consultores certificados como Ivey, que teve seu próprio “momento Kondo” quando doou roupas no valor de US$ 300 ainda com as etiquetas. Depois, deixou o emprego na consultoria Booz Allen Hamilton e, há três anos, abriu a empresa For The Love of Tidy, com o slogan: arrume sua casa, mude sua vida.
Ivey encontrou em Tara uma devota animada. Ela acaba de fazer uma trilha em Sedona, no Arizona, onde praticou seu novo mantra de comprar menos. No Natal, se concentrou em experiências em vez de presentes físicos, incluindo ingressos para uma versão de “O Expresso Polar” para duas sobrinhas. “É mais ou menos como quando você faz terapia”, diz Tara, sobre as sessões de arrumação. “Isso me deu as ferramentas para um processo de realmente enfrentar as coisas e projetar uma vida que aprecio.”
Tara é a nova integrante de uma crescente tribo de americanos que está rejeitando o consumismo pós-Segunda Guerra, que serviu como motor da maior economia do mundo. Os gastos dos consumidores representam cerca de 70% da economia dos EUA – uma das taxas mais altas do mundo – e são ainda mais cruciais agora, porque a produção desacelerou.
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