Empresas apostam em novas tecnologias e podem atuar até como credenciadoras
Por Flávia Furlan e Talita Moreira — De São Paulo
Helcio Beninatto, vice-presidente sênior da Ingenico para América Latina: “O comportamento do consumidor está mudando e a gente se prepara para isso”
O avanço dos pagamentos digitais, realizados via celular e com código de imagem (QR Code), tem forçado as fabricantes de “maquininhas” de cartões a se preparar para um mundo em que o equipamento pode se tornar dispensável. Embora ainda esperem aumento das vendas dos dispositivos nos próximos anos, elas têm apostado em novos negócios e tecnologias, e podem até entrar em rota de competição com os próprios clientes: as credenciadoras.
As empresas contam ainda com o desenvolvimento do modelo de pagamentos instantâneos no país. O Banco Central prepara para o segundo semestre de 2020 o lançamento de uma plataforma que permitirá transações 24 horas por dia, sete dias por semana. Enquanto isso, hoje já proliferam carteiras e contas digitais pelo mercado brasileiro, que permitem transferências diretas via celular ou então o pagamento com um QR Code escaneado pelo aparelho.
Surgimento de novas credenciadoras, contudo, ainda joga a favor da venda de maquininhas
“Não se sabe qual será a velocidade de adoção dos pagamentos digitais no país; por isso, já estamos desenvolvendo um modelo de negócio que não dependa das maquininhas”, conta Eduardo Quevedo, presidente da americana Verifone no Brasil.
A empresa passou os últimos anos gastando energia na modernização de seus equipamentos para ter uma oferta de aparelhos com tecnologia avançada a um preço competitivo. Ao mesmo tempo, lançou serviços para adquirentes, como a logística para a troca de aparelhos dos varejistas, uma área que já representa 35% das receitas no Brasil. No entanto, a empresa quer ir além. “Precisamos criar serviços para avançar em outros elos dessa indústria”, afirma Quevedo. A ideia é prestar serviços em pagamentos instantâneos.
A francesa Ingenico, que detém 40% do mercado brasileiro, ainda vê a base de terminais crescer no Brasil em um ritmo de 10% ao ano pelos próximos anos – na América Latina, região do grupo que mais cresce, a receita avançou 104% no primeiro semestre deste ano, para € 143 milhões. Mas o fato de as vendas de máquinas continuarem crescendo não quer dizer que não haja sinais de mudanças nessa tendência.
“O comportamento do consumidor está mudando e a gente se prepara para isso”, diz Helcio Beninatto, vice-presidente sênior da Ingenico para América Latina. Ele conta que a companhia vem testando soluções de mobilidade e transações feitas a partir de reconhecimento facial, por exemplo. “A Ingenico se posiciona como uma empresa de meios de pagamentos, e não de terminais.”
Outra aposta é na oferta de um sistema de QR Codes dinâmicos. Hoje, as transações feitas com essa tecnologia geralmente são estáticas – o pagador usa seu celular para ler um código impresso em um totem disponível no caixa do estabelecimento comercial. No sistema dinâmico, um terminal vai gerar um código eletrônico para cada transação.
Mesmo com o avanço de novas possibilidades para fazer pagamentos, Beninatto diz que o processo de substituição das maquininhas será gradual e não vai eliminar a necessidade de um intermediário que seja o provedor da infraestrutura e faça o “meio de campo” para conectar pagador e recebedor. “A questão de fazer isso com segurança é fundamental”, afirma.
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