Por Maria Luíza Filgueiras | De São Paulo

A discussão sobre o futuro próximo da BB DTVM tem ficado mais distante da bolsa de valores, por ora. Enquanto o Ministério da Economia defende uma venda ou listagem da gestora de fundos do Banco do Brasil na B3, o novo presidente da instituição, Rubem Novaes, tem argumentado que ainda não é hora, apurou o Valor.

Em reunião com o ministro Paulo Guedes (Economia) em fevereiro, Novaes defendeu que o caminho de uma parceria privada para fomentar outros negócios da gestora ou até esse ajuste sem parceiro seria o melhor a seguir. Nas contas de Novaes e de alguns gestores que já esmiuçaram os números da empresa, a mudança de modelo da BB DTVM pode acabar por afetá-la ao invés de potencializar ganhos.

Isso porque a BB tem um volume grande dos chamados fundos extramercado – que gere dinheiro público. A proposta inicial é que, para ser uma empresa listada, isso seria segmentado ou deixaria de existir. Mas conforme o novo presidente se debruçou sobre os números, o que ficou claro é que a gestora pode ter o resultado impactado negativamente se uma dessas alternativas acontecer.
Um fundo resume essa discussão. O BB Curto Prazo Supremo Setor Público foi criado para gerir recursos de autarquias, fundações e sociedades federal, estaduais e municipais. Conforme os dados da carteira na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo faz aplicações basicamente em operações compromissadas atreladas ao Tesouro e tem 160 mil cotistas. Este fundo tem taxa de administração de 4% ao ano sobre o patrimônio líquido, que é de R$ 53 bilhões.

O fundo gera, sozinho, R$ 2,1 bilhões por ano em receita com taxa de administração para a BB DTVM. Para se ter uma ideia, em 2018, a receita de prestação de serviços e tarifas bancárias totalizaram R$ 2,35 bilhões, com um lucro líquido de R$ 1,15 bilhão.

Conforme o ranking da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a BB DTVM é a maior gestora do país, com R$ 927,4 bilhões sob gestão e participação de mercado de quase 21% em 2018. A gestora também soma os R$ 52,5 bilhões em fundos extramercado – chegando a um volume total em 2018 de R$ 993,6 bilhões em recursos de terceiros administrados.

“Ou seja, com quase um trilhão gerido, a BB DTVM tem como resultado basicamente o que tira de um fundo com taxa de administração absurda”, diz um gestor independente, que fez um comparativo entre as assets de bancos.

Em conversas com o secretário de Desestatização e Privatizações, Salim Mattar, Novaes apontou sua preferência em vender outras participações antes – como a fatia no IRB e na Neoenergia, conforme contou a dois interlocutores.

“A administração do banco quer levar a gestora para o IPO, só não vê isso acontecendo na composição atual de receitas”, diz um executivo próximo à discussão. “Você não pode vender ao mercado que você vai ganhar dinheiro cobrando 4% de taxa do governo.”

Conforme a Anbima, no varejo, que já tem taxas maiores que no mercado institucional, a taxa de administração média de fundos de renda fixa para investimento acima de R$ 100 mil era de 0,53% ao ano em dezembro. Se o governo migrar seus recursos para fundos com taxas médias de mercado, a BB DTVM terá um impacto relevante de receita e no lucro. “E, se não migrar, a gestora vai dividir esse recurso praticamente subsidiado com os acionistas em bolsa?”, questiona um executivo de banco de investimento. “No modelo atual de composição de rentabilidade, a listagem da BB DTVM destrói valor para o banco”, avalia. Procurado, o Banco do Brasil não comentou.