Por Rodrigo Carro | Do Rio

Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica: fundos quantitativos renovam apelo em meio a juros baixos no país
Gestores de US$ 1 trilhão em recursos nos Estados Unidos, os fundos quantitativos – que empregam algoritmos e outras ferramentas matemáticas e estatísticas na gestão – ainda engatinham no país. Embora não existam estatísticas oficiais, estima-se que no Brasil o valor administrado esteja em torno de R$ 3,4 bilhões, o equivalente a apenas 0,07% do patrimônio líquido da indústria de fundos no país em fevereiro. Apesar da demanda relativamente pequena por esse tipo de aplicação financeira, gestoras de recursos preparam o lançamento de novos fundos, que agora chegam à previdência privada, estimuladas pela perspectiva de manutenção da taxa básica de juros num patamar baixo.

Depois de iniciar em janeiro a captação para um novo multimercado quantitativo, a fintech Visia prepara o lançamento até o fim de maio de um fundo de previdência gerido por algoritmos. Antes distribuídos exclusivamente pela Visia, outros dois produtos da casa – os fundos Sigma e Axis – passaram a ser oferecidos pela plataforma digital Easynvest e pelo BTG Pactual.
Outra gestora que trabalha exclusivamente com fundos quantitativos, a Kadima Asset Management, vai passar a oferecer nas próximas semanas um fundo de previdência quantitativo em conjunto com a XP Seguradora. “Já temos a aprovação da Susep [Superintendência de Seguros Privados]”, conta Rodrigo Maranhão, diretor de gestão da Kadima. Em novembro do ano passado, a gestora passou a oferecer um novo fundo quantitativo de investimento em ações.

A SulAmérica Investimentos lançou em dezembro seu primeiro quantitativo, em parceria com os gestores do fundo multimercado Pandhora.

No ano passado, os três principais fundos quantitativos – Zarathustra, Murano e Kadima – tiveram retorno médio de 15,04% – superior aos 7,09% do HFA, o índice de fundos hedge da Anbima, segundo levantamento da Visia. Também superaram os 6,42% do CDI, indicador que baliza os fundos multimercados.

A ampliação do leque de produtos quantitativos contrasta com a expansão lenta deste segmento específico. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Anbima não fazem distinção entre os quantitativos e os fundos tradicionais. Levantamento feito pelo Pandhora indica que o número de casas de investimento 100% dedicadas aos quantitativos mais que dobrou num período de nove anos, mas o total ainda é baixo. Em 2007, quando os quantitativos chegaram ao Brasil, havia somente duas gestoras dedicadas ao segmento. Já em 2016 este número estava em cinco. Outras sete gestoras têm portfólio misto, combinando fundos quantitativos e tradicionais.

A volatilidade do mercado nos anos recentes foi um dos fatores que levou os gestores a privilegiarem uma abordagem mais tática, com investimentos de curto prazo, em detrimento de “posições estruturais” voltadas para um horizonte de tempo longo, explica Marcelo Mello, vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica. “O segmento não cresceu porque nesse período [2007 a 2019] a estratégia macro direcional [carteira que busca ganhar com as tendências dos mercados] parece que teve apelo mais forte entre os gestores e os investidores”, disse.

Distribuído pela SulAmérica, o Pandhora Feeder Institucional FIC FIM espelha um fundo criado em maio de 2016 pela casa de investimento. A gestão fica a cargo de 18 algoritmos que, na prática, equivalem a estratégias distintas desenhadas a partir de dez mil “preços” distintos (cotações de papéis e variações de índice), reunidos numa base de dados que cobre os últimos 20 anos a 25 anos. Os modelos matemáticos são rodados apenas uma vez por semana. Intervenções humanas ocorrem só no caso de eventos completamente fora dos padrões usuais, que não tenham sido “capturados” na base de dados.

“Lá fora, os fundos têm dezenas de algoritmos. É como se cada um dos algoritmos fosse um analista ou um trader”, diz Alexandre Bossi, gestor do Pandhora. “Começamos com um algoritmo em 2016. Nossa meta é ter dezenas dentro de dois anos”. Nos EUA, seis dos dez maiores hedges funds são quantitativos, afirma Bossi.