Grupo tenta convencer investidores de que vale R$ 4 bi, R$ 1 bi a mais do que se dispõem a pagar

Por Maria Luíza Filgueiras e Taís Hirata — De São Paulo

A Iguá Saneamento planeja postergar sua oferta pública inicial de ações (IPO), conforme duas fontes ligadas à operação. A decisão final será tomada na primeira semana de outubro, se a companhia não conseguir convencer investidores de que vale R$ 4 bilhões – e não R$ 3 bilhões, como estão dispostos a pagar.

Protocolado no fim de agosto, o pedido foi recebido com forte expectativa no setor, já que seria a primeira abertura de capital de uma companhia privada no país. Hoje, apenas três estatais – Sabesp (SP), Copasa (MG) e Sanepar (PR) – têm ações negociadas na Bolsa.

A Iguá é controlada pela gestora brasileira IG4, que comprou a companhia em meados de 2017, do grupo Galvão. Hoje, um dos principais investidores da empresa é o fundo canadense Alberta Investment Management Corporation (AIMCo).

A companhia está em fase de educação de investidores, como é chamado o processo de reuniões com analistas para tentar indicar os parâmetros de avaliação da empresa, e de “pilot fishing”, em que conversa com os investidores diretamente sobre potencial interesse.

A empresa e os bancos coordenadores tentam mostrar a investidores que a companhia é comparável a empresas de concessão de rodovias e transmissoras de energia – e não a outras empresas de saneamento de controle estatal.

A grande vantagem das empresas privadas de saneamento em relação às públicas é a maior segurança em relação à tarifa, que é definida em contrato e indexada pela inflação. Já no caso das estatais, a remuneração depende de reajustes periódicos, definidos pelas agências reguladoras locais – que, em sua maioria, têm baixo nível técnico e de governança, na visão de analistas de mercado.

A avaliação, porém, é que as empresas ainda sofrem com um risco regulatório considerável, porque dependem da negociação com municípios para conseguir reequilíbrios dos contratos.

Um investidor que participou das apresentações conta que a Iguá considera uma taxa interna de retorno (TIR) de seus projetos entre 12% e 12,5%, em comparação à faixa de 7% a 8% de empresas estaduais de saneamento.

No entanto, isso ainda é projeção. A empresa pede uma avaliação de mercado que indica um múltiplo de cerca de 11 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), mas os investidores se mostram dispostos a um múltiplo de cerca de 8 vezes.

Para uma fonte envolvida no processo, duas semanas é pouco tempo para fazer os gestores nacionais e estrangeiros mudarem de ideia. Os investidores têm interesse no negócio, mas querem flexibilidade de preço. “Já a companhia confia nas projeções e prefere postergar a oferta e voltar a mercado com ela concretizada do que alterar a precificação agora”, diz uma fonte.

Outro fator importante é a tramitação do projeto de lei que altera o marco legal do setor, que deverá ser votado pela Câmara no fim de outubro e depois seguirá para o Senado. Hoje, a perspectiva de aprovação é otimista, e a companhia tem usado isso a seu favor, afirma um analista. A avaliação é que, a depender da votação, o interesse poderá variar consideravelmente, afirma.