O embate recente entre os poderes Executivo e Legislativo traz bastante nervosismo para o mercado de renda fixa e os investidores começam a colocar nos preços dos contratos de juros futuros a probabilidade de não aprovação das mudanças do sistema Previdenciário e a consequente piora da situação fiscal do país. Os desentendimentos acontecem em um período de nervosismo no exterior, o que deixa os ativos ainda mais sensíveis às questões locais.
Os juros futuros reais de longo prazo, aqueles que descontam a expectativa de inflação futura, são um bom termômetro na visão de Paulo Clini, diretor da área de investimentos da Western Asset no Brasil. Na sua avaliação, o cenário de aprovação da reforma proposta pelo governo de Jair Bolsonaro levaria os juros reais para o patamar de 3%, enquanto que o cenário de completa rejeição das mudanças colocaria a taxa a 9%. O nível atual está entre 5% e 6%, no meio do caminho.
Dado que as premissas para a inflação não mudaram recentemente, o movimento dos contratos futuros de juros pode confirmar a piora do juro real. Desde a quarta-feira da semana passada, a taxa do contrato de juros DI para janeiro de 2023 teve alta de 0,56 ponto percentual, para 8,47%, enquanto o DI para janeiro de 2025 mostrou avanço de 0,59 ponto, para 9,04% no fim da sessão regular.
“Os juros estão no meio do caminho. Não precifica nem alta probabilidade de aprovação da Previdência nem diz que a chance é nula. Acredito que hoje a expectativa seja de uma reforma mais aguada, com economia entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões em dez anos”, afirma o especialista. Ele pondera, no entanto, que é uma conta difícil de ser feita porque o juro real também sofre influência de fatores externos e o contexto internacional está negativo para emergentes nos últimos dias.
De acordo com o gestor de uma grande asset que preferiu não ser identificado, o mercado embute hoje probabilidade de cerca de 60% de aprovação da reforma. O especialista afirma também que a curva tem bastante prêmio, sobretudo ao comparar com os juros reais de países pares do Brasil. Essa realidade deve mudar, em sua opinião, apenas quando o Brasil tiver estabilidade fiscal e voltar a crescer. Neste caso, as taxas reais iriam para o patamar entre 3,5% e 4%.
Mas a leitura de que os ativos começam a precificar chance de não aprovação, no entanto, não é unânime. “De uma semana para cá, com a crise política que se instaurou, o mercado começou a ficar receoso quanto à estratégia do governo e as chances de aprovação da reforma. Mas eu diria que esse receio ainda é incipiente, nem de longe está precificado um cenário de não aprovação”, afirma Fernando Rocha, economista-chefe da JGP.
Rocha vê pouca mudança na inclinação da curva de juros – a diferença entre os juros de curto prazo, que acompanham as perspectivas para a política monetária, e os mais longos, que seguem as preocupações com a condição fiscal e o prêmio de risco, embutindo a influência do contexto internacional. Segundo ele, o movimento foi proporcional entre os diferentes vencimentos da curva.
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