Por Fernanda Pressinott | De São Paulo

A fábrica de biscoitos e massas da marca Isabela localizada em Bento Gonçalves (RS): moinho, no mesmo complexo, garantirá a matéria-prima da unidade

Dois anos após iniciar a construção e investir R$ 300 milhões com recursos próprios, a M. Dias Branco vai inaugurar até o fim deste semestre seu novo moinho em Bento Gonçalves, município gaúcho situado a 121 quilômetros de Porto Alegre. No local, a empresa já conta com uma fábrica de biscoitos e massas da marca Isabela, que agora terá o abastecimento de matéria-prima garantido exclusivamente pela empresa.

Com esse moinho, a M. Dias passará a garantir o fornecimento de farinha de trigo para 100% das operações, o que confere tranquilidade maior previsibilidade aos negócios, diz Geraldo Luciano Mattos Júnior, vice-presidente de investimentos e controladoria da companhia. Atualmente, a verticalização é capaz de atender de 90% a 92% da demanda total.

Dona de cinco outros moinhos e dez fábricas no país, onde produz biscoitos e massas com as marcas Adria, Puro Sabor, Piraquê e Basilar, entre outras, a M. Dias Branco faturou R$ 6 bilhões no ano passado, quando registrou lucro líquido de R$ 723 milhões. Segundo a consultoria Nielsen, a empresa tem participação de 36% do mercado nacional de biscoitos.

Além de atender à demanda total de farinha da fábrica dos produtos Isabela, a capacidade de produção de 1,3 mil toneladas por dia da nova unidade permitirá à empresa ter um excedente de farinha para comercializar no Sul e no Sudeste do país. Hoje, a M. Dias Branco é quase inexpressiva nesse mercado. Atua em apenas alguns Estados do Nordeste, região responsável por 70% da receita da empresa.
“Teremos mais um produto no portfólio e entraremos no mercado de farinha de trigo no Sul e Sudeste”, reforça Mattos Júnior. O novo moinho permite a extração de 80% de farinha e 20% de farelo para cada tonelada de trigo, enquanto em plantas mais antigas a relação é de 70%/30%. “A tecnologia garante 10 pontos percentuais de ganho para cada tonelada de trigo em um produto de maior valor”, afirma.
A farinha a ser moída deverá ser adquirida sobretudo da Argentina, que normalmente já abastece os cinco outros moinhos da companhia, mas também há compras no Brasil e, pontualmente, importações do Canadá e dos EUA.

“A farinha americana é melhor para alguns produtos, por isso vale a pena trazer algum volume de lá, apesar da distância”, diz Mattos Júnior. Nesse sentido, o executivo espera com ansiedade que seja regulamentada a cota de importação sem tarifa de 750 mil toneladas de trigo de países de fora do Mercosul, anunciada pelo governo em março.

A companhia também trabalha com a expectativa de que o preço do trigo caía no mercado mundial e no Brasil no segundo semestre, como sinalizado por analistas diante dos altos estoques mundiais e das previsões de grandes produções em diversos países.

O trigo representa entre 30% e 35% dos custos de produção da M. Dias Branco e a alta de preços no fim do ano passado pressionou as margens da empresa. “Com a situação econômica atual, não pudemos repassar todos os aumentos de custos para os nossos clientes”, afirma o executivo.

No último trimestre de 2018, o lucro da companhia caiu 31% em relação ao mesmo período de 2017, para R$ 139,8 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 190 milhões, 2,3% menos na comparação e 16% abaixo das estimativas de mercado.