Por Juliana Machado, Marcelo Osakabe, Ana Carolina Neira e Daniela Meibak | De São Paulo
Os ativos brasileiros retomaram a sua trajetória de alta ontem, mas sem deixar a cautela de lado. Os investidores continuam impondo um limite à valorização das ações e do real, enquanto aguardam pelo encontro de grandes economias no G-20 e também por novas informações sobre o trâmite da reforma da Previdência, pauta mais cara aos gestores neste momento.
O Ibovespa até ameaçou recuperar a faixa dos 101 mil na máxima do dia, enquanto o dólar retrocedeu aos R$ 3,83 na mínima. No fim da sessão, porém, o fôlego comprador na bolsa e no real cedeu, e o Ibovespa terminou em 100.688 pontos, um avanço de 0,60%. Já o dólar comercial recuou 0,11%, para R$ 3,8470.
No mercado de juros, a curva continuou passando por ajustes de olho na reforma fiscal e no futuro da política monetária brasileira. Houve queda da diferença entre os contratos de vencimento mais longos e mais curtos, e o DI para janeiro de 2025 saiu de 7,29% para 7,24%; já o DI para janeiro de 2021 ficou com taxa de 5,99%, contra 5,96% no ajuste anterior.
A performance condiz com um mercado otimista, mas ainda em compasso de espera pelo avanço no projeto da reforma da Previdência. A perspectiva é que, na renda variável, as ações tenham mais espaço para caminhar com a reforma aprovada, já que a proposta deve garantir um juro baixo no Brasil por mais tempo – e, consequentemente, atratividade para a bolsa de valores no longo prazo. O investidor, entretanto, já embutiu nos preços uma aprovação da pauta e aguarda por sinais de que haverá avanço para topar pagar ainda mais caro pelos ativos locais.
Não bastasse a cena local, o exterior também é fonte de cautela adicional antes do encontro do G-20, a partir da sexta-feira no Japão. Lá fora, também há sinais de corte de juros por bancos centrais globais, o que dá força à expectativa de crescimento da liquidez mundial. No entanto, as tensões comerciais ainda não resolvidas entre China e Estados Unidos deixam o investidor à espera da aproximação dos dois países no encontro.
“O movimento denota a volta do mercado à sua tendência original, que é de alta, mas ainda marcado por um compasso de espera. É mais difícil achar oportunidades, agora que o Ibovespa já rompeu os 100 mil pontos, antes da aprovação da reforma fiscal, então o investidor segue bem criterioso. O setor de varejo e consumo ainda não andou como se esperava e mesmo bancos estão ‘descontados'”, afirma Luís Sales, analista da Guide Investimentos.
Na bolsa de valores, a Petrobras ON caiu 0,49%, enquanto a PN subiu 0,58%. Subsidiária da companhia, a BR Distribuidora ficou entre as maiores altas do índice (2,92%). Há, segundo dois analistas, a perspectiva para a venda da fatia da Petrobras na BR, já que o plano de vendas de ativos da estatal segue a todo vapor.
Já no mercado de câmbio, o voto de confiança dado por investidores locais ao Congresso nas últimas semanas – e que pode ser observado na queda expressiva do dólar – pode ter se desgastado nos últimos dias, segundo Fernanda Consorte, economista-chefe e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.
“[O presidente da Câmara, Rodrigo] Maia havia dado um primeiro prazo para a votação na comissão especial para o dia 25 [terça-feira]. Agora, já admite ficar para a semana que vem”, afirma ela. “Se essa votação começa a atrasar muito, pode comprometer a perspectiva de aprovação no Plenário antes do recesso. Acredito que é por isso que o câmbio tem andado pouco nos últimos dias.”
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