Por Lucas Hirata e Daniela Meibak | De São Paulo
Loureiro, da Trafalgar: Começa a fase mais crítica de negociação da reforma
O atraso na tramitação da reforma da Previdência é dado como certo pelo mercado e o discurso adotado recentemente pelo governo de aprovação ainda no primeiro semestre parece não ter sensibilizado muitos analistas. O Valor consultou 58 economistas e apenas oito trabalham com o cenário de validação na Câmara antes do recesso parlamentar de julho.
O que se percebe no mercado é um clima de cautela, principalmente, por causa das dificuldades da administração de Jair Bolsonaro em assegurar aliados no Congresso e dar mais celeridade à tramitação da proposta de reforma. Tanto é que a maioria dos entrevistados considera que o processo corre o risco de se alongar para o segundo semestre.
Conforme a tramitação toma mais tempo, aumenta o risco de diluição da medida a cada etapa de discussão no Congresso. Os profissionais de mercado estimam, em média, que a reforma trará R$ 700 bilhões de economia fiscal ao longo de dez anos, ante a projeção inicial do governo que superava R$ 1 trilhão – o intervalo das projeções na pesquisa vai de R$ 400 bilhões até R$ 1 trilhão.
“Acredito que a tramitação será menos célere pelas idas e vindas com o governo, falta de quórum, dificuldade para evitar obstruções”, diz Vinícius Alves, estrategista da Tullet Prebon Brasil. “Como o novo governo é inexperiente, a oposição consegue ganhar a ‘batalha regimental’, mas isso não necessariamente implica em diluição muito maior”, completa.
Alves afirma que os preços dos ativos já parecem refletir a diluição da economia esperada, mas ainda não consideram todos os riscos, inclusive de prolongamento da tramitação. O dólar ficou em R$ 3,9390 e o Ibovespa ficou em 96.008 pontos na última sexta-feira, bem distantes dos melhores momentos de valorização dos ativos locais neste ano.
Uma etapa importante é esperada para esta semana, com o início dos trabalhos da comissão especial da Câmara que analisará a proposta da nova Previdência. Os profissionais de mercado já mostram uma postura mais defensiva, depois que a primeira fase de análise na Câmara, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), levou mais tempo que o esperado e contou até com bate-boca do ministro da Economia, Paulo Guedes, com parlamentares.
Para Camila de Faria Lima, economista-chefe da Canvas, ainda há muita incerteza com relação à data de aprovação. Ela afirma que algumas lideranças no Congresso mostram a intenção de acelerar a tramitação, o que poderia permitir a aprovação antes do recesso de julho. “No entanto, a dificuldade inerente a esse tema, somada à dinâmica recente da articulação daquela que deve ser a base de apoio à reforma, jogam uma expectativa mais conservadora para agosto ou setembro”, diz.
“Começa agora a fase mais crítica de negociação política em torno da reforma”, diz Guilherme Loureiro, economista-chefe da Trafalgar. O importante nessa fase, afirma, é preservar o “núcleo” da reforma (idade mínima, regra de transição e mudanças para aposentadoria dos servidores públicos). “Na nossa avaliação, uma reforma chegando a uma economia mínima de R$ 750 bilhões em dez anos seria positiva para ativos brasileiros.”
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