Fabricantes passam a usar material reciclado ou biodegradável
Por Cibelle Bouças — De São Paulo
Luiz Moroni, diretor de relações com investidores da Grendene: “Esses investimentos se pagam em pouco tempo”
A produção sustentável de calçados deixa de ser uma iniciativa restrita a gigantes multinacionais e torna-se cada vez mais comum entre fabricantes brasileiros. Empresas como Grendene, Arezzo, Vulcabras Azaleia, Alpargatas, Bibi Calçados e Via Uno desenvolvem calçados com matérias-primas recicladas ou biodegradáveis.
As fabricantes brasileiras seguem uma tendência internacional, que começou na década passada com as gigantes esportivas Nike e Adidas. Entre 2010 e 2018, a Nike usou o equivalente a 6,4 bilhões de garrafas PET em fibras para produção de tênis e roupas. A Nike espera fechar 2020 com 50% do poliéster de origem reciclada, elevando esse índice para 100% até 2024. A Adidas lançou em 2016 uma linha de tênis com fibra à base de plástico PET reciclado. Até agora, a Adidas pôs à venda 17 milhões de pares desses calçados.
No Brasil, o caso mais recente é da Grendene, dona de marcas como Melissa, Rider e Ipanema. Luiz Moroni, diretor de relações com investidores da companhia, disse que 30% do plástico usado nos calçados é reciclado. “A intenção é desenvolver tecnologias para incorporar mais materiais reciclados”, disse. A Grendene não divulga o valor total investido em iniciativas de sustentabilidade, mas disse que os produtos são rentáveis. “Esses investimentos se pagam em pouco tempo e oferecem um retorno para o investidor razoavelmente apropriado”, disse Moroni.
A Via Uno, que produz 20 mil pares de calçados femininos por dia, lançou em janeiro uma linha de 8 modelos de tênis feitos com tecido composto de sobras de fios da indústria e de plástico reciclado e com palmilha composta por 30% de espuma reciclada. Anderson Haag, gerente de estilo da Via Uno, disse que o custo de produção é de 17% a 22% maior em comparação a um tênis convencional, mas esse custo é compensado com economia de outras despesas, como água e energia. “A aprovação nas lojas está tomando uma proporção que pensamos em triplicar a oferta de tênis sustentáveis”, disse Haag, que prevê produzir no ano 140 mil pares de tênis sustentáveis.
A Bibi Calçados, que produz 2,7 milhões de pares por ano, também usa tecidos com plástico reciclado e espumas recicladas na produção de calçados infantis, disse Ismael Fischer, gerente de suprimentos da companhia. O executivo afirmou que as matérias-primas recicladas têm custo 12% a 15% mais alto em relação a materiais convencionais. “O custo é mais alto, mas tem retorno. Consumidores das classes A e B buscam nas lojas calçados feitos de forma sustentável”, disse. A companhia prevê crescer 5% em volume de vendas neste ano.
A Vulcabras Azaleia, dona de marcas como Olympikus, Azaleia e Under Armour no Brasil, é a que usa mais material reciclado nos calçados. Alguns componentes chegam a ter 80% de material reciclado, como solados, peças internas e cabedais (parte superior dos tênis). “Usamos principalmente plástico reciclado para compor a malha dos tênis”, disse Luiz Otávio Goi, gerente de qualidade, segurança do trabalho, meio ambiente e saúde da Vulcabras Azaleia.
A Arezzo & Co., por sua vez, lançou no fim do ano passado a primeira linha de tênis feito com material biodegradável. O tênis da marca Arezzo usa um fio de poliamida biodegradável desenvolvido pela Rhodia, do grupo Solvay. Renato Boaventura, CEO da Rhodia, disse que as vendas dessa poliamida cresceram “dois dígitos altos” em 2019. “A indústria têxtil já buscava materiais sustentáveis e agora a tendência cresce no setor calçadista”, afirmou Boaventura.
Alexandre Birman, presidente da Arezzo, disse que a linha de tênis teve ótima receptividade. A empresa inclusive lançou uma coleção de inverno de bolsas e botas da Schutz feitas com 90% de material reciclado. “Chegamos a bons resultados com a linha biodegradável. A intenção é ter em cada coleção um novo lançamento de produto sustentável”, afirmou Birman.
Leave A Comment