Por Valentina Romei | Financial Times, de Londres
A produção industrial global passa pela desaceleração mais acentuada e geograficamente disseminada em ao menos seis anos. A retração é consequência dos efeitos negativos da guerra comercial entre EUA e China sobre fábricas do mundo inteiro.
O desaquecimento da indústria é o principal fator de desaceleração da economia, ao alimentar temores de que o crescimento está quase parando e ao reforçar as pressões para que governos e bancos centrais articulem incentivos.
O quadro sombrio tem como centro a indústria automobilística. Em agosto, o nível de atividade nas montadoras de veículos chegou próximo do menor patamar já alcançado mundialmente, segundo sondagem publicada ontem.
O índice IHS Markit dos gerentes de compras da indústria automobilística mundial registrou a maior queda de atividade de todos os setores. Foi o seu quarto resultado mais baixo desde 2009 – quando começou a série histórica.
Os índices IHS de produtos industrializados, máquinas e equipamentos, e metais e minérios também ficaram abaixo dos 50 pontos. Isso significa que cresceu o número de executivos que relatam contração de sua atividade em relação aos que falam em expansão.
Em decorrência disso, o índice IHS geral da indústria de transformação permaneceu abaixo dos 50 pontos em agosto, pelo quarto mês consecutivo – o período mais longo dos últimos sete anos.
O principal motivo disso é a guerra comercial entre EUA e China e seu efeito desestimulante sobre as exportações, segundo economistas. Os volumes mundiais de produtos exportados contraíram 1,4% em junho quando comparados ao mesmo mês do ano passado, segundo o Centro de Análise Econômica (CPB), da Holanda.
“A desaceleração do comércio mundial tem a ver com o desaquecimento da indústria de transformação”, disse Adam Slater, economista-chefe da consultoria Oxford Economics. “O comércio mundial contraiu-se, o que é bastante incomum fora de um período de recessão. Isso pode se agravar.”
Em decorrência das tensões comerciais, o grau de incerteza de política pública mundial aumentou para seu nível mais elevado desde o início da série histórica, de acordo com um índice amplamente monitorado.
“O abalo causado pela incerteza geopolítica nos investimentos das empresas continua sendo o principal entrave à indústria mundial”, disse Olya Borichevska, economista do J.P. Morgan. “Os desdobramentos dessa frente têm de melhorar para o setor se erguer.”
Embora pesquisas possam parecer mais voláteis do que dados econômicos, a queda da confiança se reflete na produção. Em junho, mês mais recente com dados disponíveis para se comparar as principais economias – o número de países que informou contração da produção manufatureira superou os que informaram expansão, pela primeira vez em cinco anos.
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