Por Isabel Versiani | De Brasília

Um estudo do Banco Central mostra que apenas cerca de metade dos tomadores de crédito pessoas físicas que passam por uma reestruturação de dívida, ou 51%, retomam uma situação de adimplência ou pré adimplência (atrasos inferiores a 90 dias) um ano depois da renegociação do débito. Uma parcela dos demais volta a ficar inadimplente (11,1%), sofre nova reestruturação (3,6%) ou acaba tendo seus débitos lançados como prejuízo pela instituição credora (17,7%).

A efetividade da reestruturação, quando são concedidas alterações nas condições de pagamento para devedores em dificuldades financeiras, varia de uma modalidade de crédito a outra. Nas dívidas no cartão de crédito, que respondem pela maior parcela de tomadores que buscam reestruturação (27%), o sucesso da renegociação fica próximo à média: 48% dos tomadores deixam a situação de inadimplência após o período de um ano.
Já as reestruturações de dívidas imobiliárias têm uma taxa de sucesso maior. Segundo o BC, 84% dos clientes dessa modalidade têm sua dívida paga ou estão em situação de adimplência um ano depois da reestruturação.
“Esse comportamento pode estar relacionado com o fato de o crédito imobiliário ser de alto volume e envolver uma boa garantia, levando a um maior interesse tanto por parte do tomador quanto da instituição concedente em mantê-lo adimplente”, afirmou o BC.

Segundo o estudo, construído com dados do Sistema de Informações de Crédito (SCR) no período dezembro de 2016 a dezembro de 2018, os devedores no cartão que buscam uma reestruturação respondem por apenas 6% do saldo da carteira reestruturada e 70% têm renda inferior a três salários mínimos. Os devedores do crédito imobiliário, por outro lado, respondem por uma parcela pequena do total de pessoas que buscam a reestruturação (6%), mas atingem 46% da carteira reestruturada.

O Banco Central disse considerar preocupante a permanência dos tomadores na modalidade do cartão de crédito, dado seu custo elevado. Em dezembro do ano passado, embora representasse 12% do saldo da carteira de crédito pessoa física, o cartão de crédito correspondia a 22% da carteira inadimplente. “Reforça-se assim a importância de ações de cidadania financeira, alertando para a adequada utilização dessa modalidade de crédito ou sua substituição por outras mais convenientes e menos custosas”, afirmou o BC.

Em dezembro de 2018, 278 mil tomadores de crédito tinham reestruturado suas dívidas. Desse total, 64% tinham dívidas inferiores a R$ 3 mil. O estoque da carteira estruturada somava R$ 2,9 bilhões, o que correspondia a cerca de 0,15% da carteira ativa total do sistema financeiro nacional.