Na esteira da piora do desempenho operacional e do prejuízo líquido de R$ 3,46 bilhões no terceiro trimestre, companhia decidiu limitar investimentos
Walter Schalka, presidente da Suzano, afirmou que a empresa vai restringir os investimentos enquanto a dívida líquida representar mais de 3 vezes o Ebitda
O ciclo de baixa dos preços da celulose e a manutenção dos estoques da fibra em níveis acima do normal levaram a Suzano a adotar uma estratégia financeira austera para os próximos trimestres. Na esteira da piora do desempenho operacional e do prejuízo líquido de R$ 3,46 bilhões no terceiro trimestre, a companhia decidiu limitar investimentos, monetizar estoques e eventualmente vender excedentes de madeira para proteger seu balanço do cenário adverso para os negócios com a matéria-prima.
Maior produtora do mundo de celulose de eucalipto, a Suzano viu sua receita líquida encolher 33% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 6,6 bilhões, diante do menor volume de vendas de celulose e dos preços mais baixos. A produção de fibra caiu 24%, para 2,1 milhões de toneladas, enquanto as vendas recuaram 12%, a 2,55 milhões de toneladas – frente ao segundo trimestre, porém, houve recuperação de 15% nos volumes.
O desempenho operacional contribuiu para o prejuízo de R$ 3,46 bilhões, que foi impulsionado pelo impacto negativo da desvalorização do real frente ao dólar na parcela da dívida que está expressa em moeda estrangeira e em operações com derivativos. No intervalo, o resultado financeiro líquido da Suzano ficou negativo em R$ 6,49 bilhões, frente a R$ 2,79 bilhões também negativos um ano antes. As perdas com variação cambial chegaram a R$ 3,69 bilhões, enquanto o resultado das operações com derivativos foi negativo em R$ 1,46 bilhão.
Em entrevista ao Valor, o presidente da companhia, Walter Schalka, disse que os investimentos serão restritos enquanto a dívida líquida representar mais de 3 vezes o resultado antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda) em 12 meses. Ao fim de setembro, a alavancagem financeira em dólar estava em 4,3 vezes, ante 3,6 vezes em junho. Os R$ 5,9 bilhões em desembolsos previstos para 2019 foram mantidos, já que o orçamento já havia sido cortado em relação aos R$ 6,4 bilhões previstos originalmente.
Na prática, conforme o executivo, isso significa que grandes projetos, como a expansão de uma unidade ou o investimento em novos projetos de fôlego, não sairão do papel tão cedo. “A Suzano não vai pensar em novos projetos até que essa questão esteja regularizada”, disse.
Em outra frente, a Suzano pretende monetizar US$ 500 milhões em estoques, reduzindo o capital de giro, e avalia vender volumes de madeira que estejam em excesso em diferentes regiões, levantando até R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos. “Esse conjunto de ações nos deixa ainda mais preparados”, acrescentou. No terceiro trimestre, a redução dos estoques chegou a 450 mil toneladas, acima do esperado pelo mercado.
De acordo com o diretor de finanças e relações com investidores da companhia, Marcelo Bacci, com a adoção dessas medidas, a alavancagem financeira da Suzano deve cair abaixo de 3 vezes no decorrer de 2021. “Essas medidas devem ser suficientes para fazer frente ao cenário de mercado”, comentou.
Conforme Schalka, no mercado de celulose, os preços da fibra longa pararam de cair e não há razão para que a fibra curta volte a exibir quedas acentuadas. “Os preços já estão em patamares bastante baixos e há produtores reduzindo o volume de produção. A boa notícia é que, na China, a produção de papel está em patamar elevado”, afirmou.
A Suzano informou ainda que decidiu retirar a previsão que havia fornecido ao mercado relativa à produção de celulose em 2019. A companhia planejava produzir 9 milhões de toneladas de celulose neste ano, abaixo da capacidade instalada de 11,3 milhões de toneladas anuais, com o objetivo de adequar os estoques de matéria-prima, que subiram ao dobro dos níveis normais. Com a medida, que pode indicar que a marca de 9 milhões de toneladas já não é um piso, a Suzano tenta evitar que o mercado consiga estabelecer o nível de produção do quarto trimestre, uma vez que os demais intervalos do ano já são conhecidos.
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