Analistas foram pessimistas demais com resultados de empresas

Por Mamta Badkar — Financial Times

Kathie Nixon, da Northern Trust: As altas valorizações sugerem de fragilidade e vulnerabilidade a surpresas

Decorridas duas semanas da safra de balanços corporativos nos Estados Unidos, três lições importantes ficaram claras. Primeiro, Wall Street pode ter sido pessimista demais em relação aos resultados. Segundo, as empresas que parecem estar prosperando na pandemia serão castigadas se seus números desapontarem. E terceiro, as incertezas com o coronavírus tornaram mais difícil para as empresas dizer muitas coisas sobre o futuro.

O patamar certamente é baixo. No geral, as companhias que fazem parte do índice Standard & Poor’s 500 (S&P 500) projetam divulgar uma queda de 43% nos lucros para o segundo trimestre e uma queda de 10% nas receitas, segundo a fornecedora de dados FactSet. A margem líquida de lucro das empresas do índice de “blue chips” deverá ficar em 7,3% – o menor nível desde os últimos três meses de 2009.

As previsões ruins refletem os danos causados pela pandemia. As perspectivas para as empresas pioraram depois que os “lockdowns” paralisaram as viagens, fecharam negócios e levaram a taxa de desemprego nos Estados Unidos para 14,7% em abril, a maior desde a Segunda Guerra Mundial.

Embora as empresas tenham reduzido as folhas de pagamento em resposta às quarentenas, muitas tiveram problemas para reduzir uma série de custos fixos, como as despesas com leasing, e precisaram gastar mais para viabilizar o trabalho a distância ou permitir o distanciamento social, além de realizar medidas de higiene intensas para manter seus funcionários e clientes seguros.

Até agora, porém, os números no geral têm se mostrado melhores que os esperados – talvez refletindo os efeitos dos estímulos sem precedentes do Congresso e do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Até a semana passada, quase quatro quintos das empresas do S&P 500 que divulgaram seus resultados trimestrais registraram lucros por ação que ficaram acima das expectativas dos analistas e, no geral, informaram lucros 13% acima das expectativas, segundo a FactSet. Esses dois números são melhores que as médias dos últimos cinco anos.

Andrew Slimmon, diretor-gerente do Morgan Stanley Investment Management, observou que muitos economistas reviram suas estimativas de crescimento para cima nas últimas semanas – enquanto que os analistas que cobrem as empresas não o fizeram. Essa defasagem “me diz que há uma boa chance de a safra de balanços ser melhor que o esperado”, afirmou ele.

Mesmo assim os investidores estão preparados para uma decepção. Os vencedores na pandemia, aqueles que se beneficiaram das pessoas trabalhando em casa, comendo em casa, comprando pela internet e passando mais tempo nas redes sociais, provavelmente serão os mais punidos na eventualidade de um trimestre mais fraco, ou perspectivas piores. O mesmo acontece com as ações de empresas de maior valor de mercado que vêm conduzindo os ganhos como um todo. Casos em questão: Netflix e Snap.

As ações da Netflix, que subiram quase 60% entre o começo dos “lockdowns” e o anúncio dos resultados do serviço de “streaming” na semana passada, caíram 6,5% depois que a companhia alertou que o aumento repentino do crescimento provocado pela pandemia já está perdendo força.