Por Assis Moreira e Ana Paula Machado — De Genebra e São Paulo

 


O Fundo Soberano da Federação da Rússia, que coordena o desenvolvimento da vacina russa contra a covid-19, fechou acordo com o laboratório União Química para produção de sua vacina no Brasil. A produção da farmacêutica brasileira será destinada também a outros países da América Latina. O Valor apurou que o acordo deve ser anunciado nesta semana.

O CEO do fundo russo, Kirill Dmitriev, disse ao Valor que “o Brasil é um parceiro estratégico muito importante” para a vacina russo. Moscou tem procurado produzir a vacina também na Índia, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Cuba.

A União Química disse que disponibilizará sua estrutura industrial, tecnológica e biotecnológica no Brasil para apoiar o desenvolvimento e produção da vacina. “Por conta de acordos de confidencialidade não podemos divulgar mais detalhes técnicos e científicos.”

A União Química não produz vacinas e a parceria com o fundo russo seria a primeira incursão nessa área. Os aportes estão em análise. Pelo acordo firmado, haverá transferência de tecnologia para a União Química. A parceria surgiu porque a empresa estava em negociações na Rússia para trazer um medicamento ao Brasil. Quando veio a pandemia, o governo russo passou a olhar a companhia como parceira na América Latina.

Dmitriev disse ter condições de fornecer ao Brasil 100 milhões de vacinas para imunizar metade da população no prazo de seis meses. O fundo, que já fez acordos com a Bahia e o Paraná, discute com outros cinco Estados e iniciou conversações também com o governo federal, segundo Dmitriev.

Com a Bahia, o Fundo Soberano fez acordo para fornecer até 50 milhões de doses da Sputnik V, a primeira vacina registrada contra o vírus. Quer iniciar testes clínicos na Bahia este mês, dependendo do sinal verde das autoridades de regulação. O acordo habilitará a Rússia e a Bahia a distribuir a vacina no Brasil, no futuro.

A entrega das doses à Bahia é esperada para começar em novembro, mas depende da aprovação de autoridades de regulação em vista dos resultados dos testes clínicos em curso. Os resultados preliminares dos testes com 40 mil voluntários, sobretudo na Rússia, devem ser publicados em outubro ou novembro, segundo o fundo russo.

“Queremos garantir acordos com vários Estados, estamos conversando com cinco, mas temos limitação sobre o tamanho da nossa produção”, afirmou. “Podemos fornecer ao Brasil cerca de 100 milhões de vacinas, cada uma com dois ‘shots’, em meio ano.”

No mes passado, o Fundo já tinha anunciado acordo com o Paraná para organizar a produção da Sputnik V, como foi batizada a vacina, para distribuição no Brasil e outros países da América Latina.

Na semana passada, o Fundo anunciou acordo para fornecimento de 32 milhões de doses para o México. A Rússia tornou-se o primeiro país no mundo a aprovar uma vacina contra o covid-19, em meio a forte ceticismo de cientistas sobre o avanço russo.