Por Maria Luíza Filgueiras | De São Paulo

Depois de oito horas de assembleia, os credores do grupo UTC Participações aprovaram ontem o plano de recuperação judicial da companhia. A dívida bancária de R$ 3 bilhões terá um deságio de 55% e será paga ao longo de 22 anos, com carência de 18 meses para pagamento de juros. Os principais credores são os bancos Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil.

A companhia pediu recuperação judicial em julho de 2017 e já tinha marcado três assembleias na tentativa de aprovar um plano, que acabaram suspensas. O assessor financeiro da UTC é a Starboard, que agora vai se encarregar da venda de ativos não estratégicos, principalmente créditos judiciais (precatórios) e imóveis, que devem somar entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões. A participação no aeroporto de Viracopos também pode ser vendida, mas o processo deve correr no âmbito da recuperação judicial da concessionária.

“A companhia vai se concentrar na atividade de engenharia industrial e construção, com a UTC Engenharia e a Constran. Outros ativos serão vendidos”, diz Pedro Bianchi, sócio da Starboard.

Havia uma resistência de credores na liberação de ativos que estavam em garantia da dívida, mas esse ponto foi equacionado para aprovação do plano.

“Depois de muita negociação com os credores, as bases de operações offshore de Niterói e Macaé da UTC Engenharia ficaram liberadas para a companhia poder usá-las como garantia para novos contratos e cumprimento do plano”, explica Rodrigo Pizarro, também sócio da Starboard. A relevância disso, segundo o executivo, é dar fôlego à operação da UTC, para que ela posso elevar sua geração de caixa.

A companhia pode também usar esses ativos liberados de garantia para tomar novos empréstimos, se necessário, na modalidade “DIP”, em que o novo credor tem preferência no pagamento. Esse financiamento novo, no entanto, fica limitado ao valor de R$ 214 milhões. Os bancos continuaram com outras garantias, como os créditos judiciais. “O acordado com os credores é fazer um grande esforço de venda de ativos para levantar capital e só depois disso tomar dinheiro novo”, diz Bianchi.

Com seu plano definido e a leniência já assinada, a companhia também tem a intenção de retomar contratos de grande porte com a Petrobras para aumentar o fluxo de caixa.

Já no caso da recuperação judicial da concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, o plano de recuperação foi apresentado em julho, com R$ 2,7 bilhões de dívida bancária. Nesse caso, a proposta não prevê deságio, mas alongamento de prazo de 15 para 25 anos. O principal credor é o BNDES e houve uma tentativa de devolução da concessão ao governo. Além da UTC, a empresa tem como acionistas Triunfo Participações, Egis e Infraero.